20 anos, 20 Atletas - Alexis Martins escolhe 20 atletas que marcaram os últimos 20 anos

"Jogava com os grandes, foi aí que evoluí muito"

Desporto
Nuno Margarido

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É longa a tradição do desporto rei em Vagos mas são poucos os vaguenses que alcançaram os mais altos patamares do futebol português. Alexis Martins é um desses nomes com carreira pelos campeonatos nacionais ao serviço de clubes bem conhecidos como Beira Mar, Oliveira do Bairro ou Gafanha. A’O Ponto, o professor de educação física como foi toda a carreira e ainda desvenda 20 nomes do desporto local, nacional e internacional que se destacaram nos últimos 20 anos.


Quem é o Alexis Martins?

Sou conhecido por Alexis mas o meu nome é Víctor Alexis Ferreira Martins, tenho 39 anos e sou residente em Santa Catarina. Sou professor de educação física e trabalho na Comissão de Apoio Social e Desenvolvimento de Santa Catarina.


E nasceste na Venezuela. Como é que chegas a Portugal?

Nasci na Venezuela e vim para cá com 5 anos. Os meus pais, como mutos emigrantes, tinha uma padaria/pastelaria e praticamente não tinham tempo para mim… e eu era um pouco travesso. Quando tinha uns 3 anos aconteceu-me isto no braço porque eu queria copiar tudo o que as pessoas mais velhas faziam e, um dia em que os meus pais estavam a descansar, desci do quarto, quis imitar os padeiros e pus a mão na amassadora. Para não haver mais problemas, os meus pais mandaram-me para cá para vir morar com os meus avós. Porque os meus pais são de cá, o meu pai nasceu cá (Santa Catarina) e foi para lá e a minha mãe nasceu lá mas os meus avós eram de cá (Rio Tinto). E passado dois ou três anos eles regressaram.


Quando é que nasce o gosto pelo futebol?

Na Venezuela ainda não havia grande gosto porque passava a maioria do tempo na pastelaria ou em casa. Foi aqui que nasceu, na escola, a jogar com os meus colegas. Comecei a apanhar o gostinho da bola e aos domingos ia sempre jogar lá num campo de futebol. Eu ia com o meu padrinho (Paulo Martins) e jogava com os grandes, foi aí que evoluí muito.


Quando é que te começaste a aperceber que até tinhas algum jeito?

Sinceramente… eu gostava de jogar à bola, não quer dizer que tinha jeito porque eu no início não tinha jeito nenhum. Uma coisa que eu fazia muitas vezes era chamar as pessoas mais velhas porque queria evoluir – e foi com isso que evoluí. Só aos 11 ou 12 anos é que fui ao Beira Mar e não fiquei porque eles tinham muitos jogadores e, como eu, estavam lá muitos, eles queriam os fora de série. Nesse primeiro ano fui ao Estrela Azul, depois fiquei no Beira Mar, no ano seguinte fui para Azurva, depois fui para o Fermentelos e depois acabei por me fixar no Oliveira do Bairro que estava a jogar nos Nacionais. Eles convidaram-me, eu fui para lá e ainda arranjei aí um imbróglio com o Calvão porque já lhes tinha dito que ia para lá mas jogar no Nacional ou jogar na Distrital… é completamente diferente. Jogar com Porto, com Boavista, com Salgueiros… era outro nível. Nesse ano até percebi que tinha algum jeito porque o Porto esteve interessado em mim. Do primeiro ano para o segundo, de júnior, fui treinar ao Porto. Fiquei mesmo até ao final, fiquei entre os últimos cinco mas acabei por não ficar. No mesmo ano fui treinar ao Sporting e até era para ficar mas… eles queriam mas não me mostraram grande apoio. A casa tinha de ser eu a arranjar, por exemplo.


Como te defines como jogador?

No início gostava de jogar a 10 e era onde jogava. Mas os meus treinadores entenderam que eu era mais extremo e foi lá que me puseram. Isso custou-me um bocado porque, naquela altura, era grande fã do Rui Costa [risos]. Mentalizei-me que tinha de jogar a extremo e foi lá que joguei. Ainda por cima não era um atleta muito rápido, gostava de ter a bola no pé. Tive de me aperfeiçoar… e gostava mais de fazer assistências. Tive um ano que foi o melhor marcador da equipa mas apenas com 9 golos porque a minha média era de 4 ou 5 por época. Outra coisa que eu tinha era uma forte capacidade para segurar a bola, todos se viam “gregos” para ma tirar. E tecnicamente também era bom.


Como e onde se dá a transição para os seniores? Foi fácil?

Eu nos juniores já treinava com os seniores e pensei que não fosse custar muito mas quando cheguei aos seniores (Oliveira do Bairro), apanhei um treinador um pouco mais duro que era muito rígido e foi um pouco duro para os mais novos. Depois tive algumas dificuldades de adaptação, acabei por sair e por passar um ano no Fermentelos, depois regressei e aí é que comecei a jogar com regularidade. E tive dois ou três anos bons que depois me levaram para o Beira Mar (época 2008/09, treinador por António Sousa, e ano em que se torna profissional).


Como foi essa época na 2.ª liga?

Tive lá um ano e as coisas não correram bem. Eu também me desleixei um pouco. Tive apenas um ano lá e depois voltei para o Oliveira do Bairro no ano seguinte. Estava a estudar ao mesmo tempo, vi que não ia jogar e falei com o treinador Leonardo Jardim e ele disse-me que ia ter poucas oportunidades e deu-me a oportunidade de sair. Regressei a Oliveira do Bairro onde fiquei mais uns anos, depois fui para o Estarreja, depois para o Gafanha, depois para o Vista Alegre, depois ainda regresso ao Beira-Mar (época 2016/17, já no Campeonato de Elite de Aveiro) e terminei no Oliveira do Bairro (época 2017/18).


Era fácil conciliar os estudos com a vida profissional?

Não era fácil ainda mais quando eu tinha aulas às 8h00… Quando eu tinha manhãs livres de treino, tinha de me levantar às 6h00 da manhã para estar na faculdade (ISMAI) a horas. E o mais chato eram as pré-épocas porque coincidiam com os exames. Tinha treinos bi-diários e quando os outros estavam a descansar, eu tinha de estar a estudar porque tinha exames. Era difícil mas foi-se fazendo, não deixei nenhuma cadeira para trás.


Os clubes mostraram algum apoio nessa tua escolha de fazer duas coisas ao mesmo tempo?

Apoiavam muito. Vou-te dar um exemplo… primeiramente eu entrei em Rio Maior, em treino desportivo. Estive lá 15 dias porque foi na primeira fase e eu estava à espera da segunda fase. Nesses 15 dias treinava a semana toda em Rio Maior – eles também estavam na 2.ª divisão B, noutra série – e na sexta-feira vinha treinar a Oliveira do Bairro e jogava no domingo. Nunca tive problemas com isso, sempre me apoiaram – tanto o Beira Mar como o Oliveira do Bairro.


Mas mesmo no ISMAI, as coisas não foram fáceis como estavas a partilhar há bocado…

Custou porque eu tive muitas práticas nos primeiros dois anos. A maior lesão que eu tive, que foi uma rotura muscular derivado a isso. Terrenos pesados, acordar cedo… era muito puxado. Foi uma rotura de mais de 2 centímetros… e foi na época em que jogámos contra o Benfica que é o meu clube do coração. Pelo Oliveira do Bairro, para a Taça de Portugal (6 de janeiro de 2007).


Esse que foi um dos grandes momentos da tua carreira.

E foi mesmo no limite que joguei. Recuperei, treinei a última semana antes do jogo e só joguei na segunda parte. Mas é sempre uma alegria jogar naquele campo, cheio de gente. O Rui Costa também teve uma rotura, não jogava há 3 ou 4 meses e entrou também nesse dia. Ainda tivemos perto de 35 mil pessoas a assistir ao jogo. Foi marcante… jogar com o Rui Costa, com o Karagounis, com o Simão Sabrosa… até fiquei com a camisola dele. O que mais me impressionou foi entrares dentro do estádio e ouvires aquele barulho. E não estava o estádio cheio porque se estivesse…! Depois entras no campo e é como se estivesses a jogar num pelado.


E o jogo ficou quanto, já agora?

Perdemos 5-0 [risos]. Na altura o treinador até era o Fernando Santos. Jogava também o Petit, o Mantorras, o Nuno Gomes, o Ricardo Rocha, o Léo…


E mais momentos?

Tenho nas camadas jovens do Porto em que a figura de proa, naquela altura, era o Hélder Postiga. No Boavista era o Bosingwa. E também foi marcante a transição de júnior para sénior, como já te falei.


Mas de certeza que também há por aí alguns jogadores ou treinadores.

Tenho um jogador… que foi meu colega e que como jogador era muito bom e que também foi meu treinador – o Carlos Miguel, que jogou muitos anos na 1.ª e na 2.ª Liga. E foi o melhor treinador que eu tive… como amigo, como treinador. Foi espetacular. Na globalidade, esse marcou-me muito.


Nunca houve convites para ires jogar para fora do país?

Tive um convite para ir jogar para fora, na altura em que me profissionalizei e fui para o Beira Mar. Era uma equipa polaca (Wisla Cracóvia, campeão da Liga Polaca nesse ano, descobrimos nós após alguma pesquisa)… mas eu não estava muito para aí virado e também já tinha dado a palavra ao Beira Mar. E era uma coisa que o meu pai gostava, ir para o Beira Mar… e eu não lhe queria dar esse desgosto.


Na parte final da carreira jogaste com o Manafá e com o Nanu, atletas que agora jogam no FC Porto.

Com o Manafá joguei no Oliveira do Bairro. Eu tive uma lesão, ele era júnior de primeiro ano e foi chamado aos seniores porque jogava na minha posição. E depois acaba por ir para o Sporting. O Nanu jogou comigo no Gafanha onde faz uma boa época, vamos treinar com o Marítimo, ele faz uma jogatana e o Marítimo vem buscá-lo no ano seguinte.


Já na altura notavas que eles podiam chegar lá acima?

Já. Se tivessem cabeça e fizessem bem as coisas… tinham qualidades para lá chegar. Mas também vi muitos que tinham tanta ou mais qualidade mas que não chegaram. Por falta de cabeça, falta de ambição… mas isso é o normal. Faz parte.


Fizeste uma lista com os atletas que mais te marcaram nos últimos 20 anos. Quem são?

Nos atletas locais tenho o João Dias, um colega meu, da minha terra, que era atleta do triplo salto e competia na altura do Nélson Évora. Ele ainda chegou a ser dos melhores e ainda (………………). Depois tenho aqui o Luís Miguel que também é de Santa Catarina e que foi, por exemplo, campeão nacional de 1.500 metros em pista coberta em 2019. E ainda tenho o Miguel Rocha, do Bodysurf, que também é campeão nacional e uma figura aqui no concelho. A nível nacional tenho o Carlos Lisboa que eu gostava muito de ver no basquetebol… era uma modalidade que gostava muito e onde também gostava de ver o Michael Jordan e o Kobe Bryant. No ciclismo gostava muito do Joaquim Gomes e depois apanhei o José Azevedo que fez boas campanhas no Tour. A nível internacional, os ciclistas que mais gostava era o Jan Ullrich, um ciclista alemão que competia na altura do Lance Armstrong e que podia ter ido longe mas o extra estragou um bocado a carreira. Mas também do Marco Pantani que era um autêntico trepador… e um dos meus sonhos também era ser ciclista.


Se não tivesses dado jogador de futebol tinhas dado ciclista?

Não sei [risos] Eu gosto de trepar mas tenho muito medo a descer. A subir ainda ganho terreno mas depois a descer… e apanhei um susto no Luso. Subimos à Cruz Alta e, a descer, eu calculei mal uma curva e segui em frente – tive sorte que não vinha nenhum carro. E depois também tenho o problema da mão… quando as estradas são lisas, não há problema. Quando as estradas são menos boas já me ressinto.


Continuando na lista que fizeste. Há outras modalidades? E futebol?

No andebol, que também gostava, o atleta que mais me marcou foi o Carlos Resende que é o melhor de sempre apesar de termos agora uma boa fornada. No futebol tenho o Rui Costa, o João Pinto e o Figo porque eram as posições em que mais gostava de jogar – meio campo, número 10 e extremo. Depois, nos internacionais, o Ronaldo Fenómeno era uma coisa abismal, até dava pena ver os outros jogadores com ele. Se não fossem as lesões podia ser o melhor de sempre, na minha opinião. Depois tínhamos o Rivaldo e o Ronaldinho que eram jogadores fenomenais, o Zidane… e um que eu também gostava muito que era o Roberto Baggio. E temos agora os dois da moda, o Cristiano Ronaldo e o Messi. Foram estes os que mais me marcaram.


Agora surgiu o vício da corrida.

Surgiu este grupo na Juveforce para correr com o Bruno [Curto], o Alexandre [Simões], o Juan [Pinho], o Edgar [Dinis}… e é o que tenho feito. E também estou na formação da Juveforce há dois anos.


Com vontade de dar treinador?

Quero começar devagarinho. Não quer dizer que não tenha ambição mas quero começar por baixo e subir, degrau a degrau. E o que tiver de ser…

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