Pedro Almeida, novo diretor do Parque de Ciência e Inovação de Aveiro

“Vamos duplicar o espaço edificado no espaço de três anos”

Ílhavo
Nuno Margarido

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Já são mais de 20 anos de experiência em áreas de investigação, desenvolvimento e inovação. Um currículo respeitável que levou Pedro Almeida, presidente da Inova-Ria e professor auxiliar convidado do Departamento de Eletrónica e Telecomunicações da Universidade de Aveiro (UA), a aceitar o “convite” para dirigir o Parque de Ciência e Inovação de Aveiro em junho de 2021. A’O Ponto, o novo diretor abre a vontade de colocar o nome de Aveiro nas bocas do mundo.


Quem é o Pedro Almeida?

O meu nome é Pedro Almeida e sou de Viseu, onde estive até ao final do secundário. A minha formação base é na área da Engenharia Eletrónica e Telecomunicações aqui na UA onde fiz uma Licenciatura entre 94 e 00 e um Mestrado em 00 e 04 - era pré-Bolonha. Quando tinha a Licenciatura, comecei a trabalhar no ramo da investigação, na universidade, mais na área de bibliotecas digitais. Projetos que eram muito estimulantes porque eram para a Assembleia da República, uma entidade emblemática. Durante o mestrado continuei a trabalhar noutros projetos e em 2007, fruto também desse trabalho, abri a Metatheke juntamente com um colega e dois professores. Anos mais tarde recebi um convite para a Fraunhofer Portugal que foi onde estive durante uns 8 anos… na verdade ainda mantenho alguma ligação.


O que é a Fraunhofer?

Na prática, é um centro de investigação alemão que trabalha na área das tecnologias, inteligência artificial, sistemas ciberfísicos, nisto da Internet das Coisas… eu fui para lá, em 2012, com o objetivo de liderar uma equipa que trabalhava na parte das tecnologias para o desenvolvimento. Eu estive à frente dessa unidade durante muito pouco tempo, 3 ou 4 meses, porque na altura em que eu entrei na empresa, um dos diretores foi convidado para integrar o Governo da altura, e convidaram-me para assumir as funções dessa pessoa. Eu fiquei surpreso porque era muito novo na organização, até estava a dar os primeiros passos, mas convidaram-me para ficar responsável de toda a parte administrativa e financeira e, seis meses depois, convidaram-me para membro da Direção. Desde 2013 que acabei por ser o número 2 da Fraunhofer cá em Portugal que já é uma entidade bastante grande em Portugal com 150 pessoas e receitas na ordem dos 4 a 5 milhões.


Daí veio para o PCI?

Quase. No entretanto também comecei a colaborar com a Inova-Ria onde sou presidente e comecei a ter mais proximidade com as entidades da região. E continuo a gostar muito da Fraunhofer mas todas estas deslocações que tinha de fazer para o Porto - 3 vezes por semana - também acabavam por… foram muitos anos naquele ritmo e com duas filhas pequenas em casa começaram a pesar outros fatores. Então surgiu a oportunidade de vir trabalhar para o PCI, não enquanto Diretor Geral. Até porque eu passei, por experiência própria, em todas estas fases do empreendedorismo: fui investigador, fui empreendedor, criei uma empresa, fui trabalhar para um centro de investigação… esta é uma área que conheço bastante bem e tenho uma boa rede de contactos. E, na altura, também fazia todo o sentido porque estava a dar aulas na UA. Porque não haveria de vir para o PCI? Estava muito mais perto de casa, é um projeto da região para o qual podia contribuir para que crescesse.


Mas como surge o convite?

Na altura foram pessoas da UA que perguntaram se eu estaria disponível para vir para o PCI. Apesar de isto não ser uma nomeação, é por concurso aberto, mas já tinha havido uma primeira tentativa de contratação de um diretor mas que não teve sucesso. Eu candidatei-me, fiz o processo de recrutamento entre março e abril de 2021 e em maio iniciei funções aqui no PCI como Diretor Geral.


Consegue conjugar o PCI, a Fraunhofer, a Inova-Ria?

A minha atividade principal é com o PCI. Os trabalhos que eu faço para a Fraunhofer ou para a Inova-Ria, hoje em dia até acabam por ser mais de representação em algum evento ou alguma tarefa que ainda tenha. Até vos posso dizer que com a Inova-Ria, em média, gasto 1 ou 2 horas porque não tenho nenhuma tarefa operacional. Na Fraunhofer já é um bocado mais… mas a maior parte do tempo é mesmo para o PCI. E, normalmente, as minhas semanas de trabalho não têm 40 horas. Trabalho em funções das necessidades - até pode haver semanas em que trabalho um pouco menos - mas, regra geral, há prazos e compromissos e temos de responder em tempo útil.


Que balanço faz destes primeiros meses de trabalho?

Do meu ponto de vista tem sido uma evolução bastante positiva. Quando cheguei ao PCI comecei a ter um trabalho mais próximo das pessoas que estão aqui envolvidas e, efetivamente, houve um plano estratégico para o PCI na altura em que arrancou e delineado ali por 2015 ou 2016… mas o que é certo, e especialmente em tudo o que está ligado a esta área das tecnologias, o mundo muda todos os dias e somos obrigados a adaptar a nossa estratégia à realidade do momento. Não dá para estar a fazer planos muito elaborados a 10 e a 20 anos porque os ciclos de inovação, hoje em dia, são muito curtos. Às vezes, seis meses já é muito tempo. O primeiro trabalho que desenvolvi foi de identificar os serviços que tínhamos, a forma como o PCI estava a trabalhar com a comunidade e acabei por fazer pequenas adaptações dentro de áreas em que considerava que tinham mais potencial e a estruturar alguams unidades de negócio que dessem resposta a necessidades de mercado. Por exemplo, o Business Inovation Center já foi uma unidade criada depois de eu vir para cá e que, na prática, foi uma restruturação porque já havia uma unidade que prestava serviços de apoio à contabilidade e gestão das empresas mas eu acrescentei alguns serviços que considerei ter mais valor acrescentado para as empresas. Sempre na lógica de conseguir trazer valor à empresa, com novos produtos e serviços desenvolvidos em conjunto com a universidade, e sempre com a perspetiva de tentar minimizar o esforço em termos de resultados operacionais financeiros para a produção destes novos produtos e serviços porque tudo isto envolve dinheiro no final do dia.


Em termos da gestão das contas do PCI num todo. Está assegurado?

Essa também foi uma área que estive a trabalhar aqui. Quando iniciei existia uma operação de financiamento aqui do PCI que já estava a ser estruturado mas houve necessidade de reprogramar o programa de investimento porque, na prática, havia alguns investimentos que estavam propostos mas que em termos de tempo útil para serem executados já era algo muito reduzido. Eu estive a ajudar nessa reprogramação e agora estamos à espera da aprovação. E assim que isso estiver aprovado, a sustentabilidade financeira do PCI fica assegurada até julho de 2023. Também é importante que se diga que o equilíbrio económico-financeiro de entidades com o PCI deve ter sempre financiamento público porque este tipo de estruturas não consegue viver só com os serviços que presta, até porque, como incubadora, tem uma missão social.


E o financiamento público vem de onde?

Ou de programas como o Portugal 2020, de projetos europeus através de candidaturas feitas… e é através delas que conseguimos assegurar parte da operação. Mas dizia-vos que para este equilíbrio do PCI é preciso aplicarmos o modelo dos três terços: um terço das receitas em financiamento público, um terço das receitas através da prestação de serviços e um terço das receitas através da exploração do ativo imobiliário.


Há algum período específico para estar nesta função?

Não, não há data definida. Eu diria que, pelas minhas características e em condições normais, poderei passar aqui entre 8 a 10 anos - até para dar tempo de ver se a estratégia pensada e implementada está a correr bem.


A pergunta também foi nesse sentido de perceber o que está aí planeado para os próximos anos.

Aquilo que eu acho que vai acontecer - e temos condições para que a estratégia seja materializada - vamos duplicar o espaço edificado no espaço de três anos. Neste momento temos à volta de 600 pessoas ligadas às empresas que aqui estão e eu diria que, em três anos e com os edifícios todos construídos, podemos andar na casa das 1.200 a 1.500 pessoas. Um edifício é para a Saúde, outro é para Energia e Mar e outro é para Microeletrónica. O de Energia e Mar é o que tem o projeto mais avançado, só estamos à espera que abra o Portugal 2030 para colocarmos lá a candidatura. Os outros estão a ser trabalhados e já estamos em agendas mobilizadoras para também conseguirmos trazer pessoas para cá para dinamizar certas áreas aqui no PCI. E quando eu digo mobilizar significa trazer empresas para cá, fazer contactos com empresas de todo o mundo para que elas também criem aqui centros de investigação e inovação.


Aveiro Media Competence Center

O Aveiro Media Competence Center (AMCC) é algo novo. Como será desenvolvido em concreto?

O AMCC surge de um contacto de muitos anos que eu tenho com o João Palmeiro, que é o presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (API), porque já há muitos anos que tenho vindo a desenvolver um conjunto de iniciativas na área dos media. Na altura, quando vim para o PCI, também foi numa fase em que a API andava a estudar o caminho que devia fazer para ajudar as suas empresas a fazer a transformação digital e, fruto de algumas conversas, surgiu este conceito de criar uma unidade em Portugal com serviços centralizados que ajudasse os media tradicionais a fazer este caminho de transição digital - que é um caminho difícil. Esse conceito foi discutido e conversado com o Governo e, fruto de algumas conversas, também houve oportunidade de apresentar o projeto à Google que na altura já foi apresentado como AMCC e que já tinha parâmetros bem definidos: a sede seria aqui no PCI, tinha obrigatoriamente de ter a UA, o PCI e a API envolvidas, tinha de ser uma iniciativa a nível europeu…


Como está neste momento?

Estamos a construir toda a parte de comunicação e estamos a criar equipas em diferentes áreas como a de formação de jornalistas ou de cibersegurança, por exemplo. O consórcio também já existe e estamos a tentar estruturar todo o conceito e toda a operação para, nos próximos meses, podermos apresentar um dossier à Comissão Europeia para que esta financie o AMCC, enquanto unidade principal na Europa, para a promoção da transição digital dos media a nível europeu. É a ambição que temos e foi logo pensado para responder às necessidades da Europa.


Em termos operacionais, quando é que iniciará?

Em março está prevista uma cerimónia de inauguração do AMCC - em dezembro foi a assinatura do protocolo para a criação do mesmo. Agora é preciso materializar isto… e o objetivo é que exista um espaço físico aqui no PCI onde as pessoas estão a trabalhar. Mas a partir de março diria que já devem começar a ver algo mais palpável.

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