Instituto de Emprego e Formação Profissional

“Qualquer pessoa, mesmo empregada, pode tirar uma especialização”

Região de Aveiro
Nuno Margarido

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Já são mais de 20 anos de experiência em áreas de investigação, desenvolvimento e inovação. Um currículo respeitável que levou

Luís Guerrinha a assumir o lugar de diretor do Centro de Emprego e Formação Profissional de Aveiro em março de 2021, em plena pandemia. Cerca de um ano depois, o novo diretor faz o balanço das decisões e investimentos tomados e explica como o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) pode ser importante para desempregados mas também para empregados e empregadores.


Quem é o Luís Guerrinha e como acabou por assumir esta função?

Chamo-me Luís Guerrinha, sou licendiado em Psicologia e mais tarde tirei uma especialização em Gestão Pública e umas pós graduações em Higiene e Segurança e Qualidade. E quando vim para esta função estava a concluir o doutoramento em Gestão. Já estou no IEFP há mais de 20 anos, nas mais diferentes funções.


Em Aveiro?

Não. Estive muitos anos no Norte, depois passei vários anos em Águeda - primeiro no serviço de emprego e depois no de formação - em 2010 fiz a mudança para o serviço de formação de Coimbra onde acabei por exercer, até 2015, as funções de coordenador desse serviço e de 2017 a 2021 estava na Delegação Regional como Técnico Superior. Sou um Técnico Superior do IEFP que tem feito muito investimento ao longo dos anos, em diferentes atividades. Sempre tive contacto com Aveiro e acabei por desenvolver uma maior proximidade com as empresas de Aveiro e quando surgiu a vaga para o cargo de Diretor do Centro de Emprego e Formação, fiz a minha candidatura e fui selecionado. E é onde estou desde 2021.


É alguém que foi crescendo dentro da casa. Águeda é dependente de Aveiro?

Não, são autónomas. O IEFP de Aveiro cobre os concelhos litorais (Vagos, Ílhavo, Aveiro, Estarreja, Murtosa e Ovar) e têm unidades independentes.

Quais foram as grandes mudanças nestes anos em que esteve no IEFP? Disse que eram mais de 20 anos…

Já virei o século no IEFP. Antigamente era o Serviço Público de Emprego e ainda há muita gente que associa ao fundo de desemprego. Em 2012 houve uma restruturação de todo o serviço… o que tínhamos até essa altura era uma divisão das unidades orgânicas, havia serviço de emprego e serviço de formação. Aqui em Aveiro, a partir do momento em que passámos para este edifício, passaram a estar lado a lado… mas, funcionalmente, havia separação dos dois serviços. Foi com essa alteração que passou a existir o Centro de Emprego e Formação Profissional, passando a haver uma gestão integrada. Até porque houve sempre esta integração, a formação existe para potenciar o emprego, não é? Não existe apenas para satisfação ou realização… organiza-se em função do ficheiro de candidatos que estão em situação de desemprego.


Em termos do tecido de formação e emprego de Águeda para Aveiro. Há muita diferença?

Há uma série de áreas que são comuns. A área da indústria ligada à metalomecânica, ligada à transformação é próxima. A indústria das duas rodas tem uma enorme expressão em Águeda. A indústria em Aveiro, segundo definições do Instituto Nacional de Estatística (INE), é de alta complexidade e maior competitividade, existe uma concentração muito maior de indústrias de alta tecnologia. Aveiro tem uma componente muito maior na área automóvel com uma Renault, uma Salvador Caetano… Águeda e Aveiro têm segmentos diferenciadores mas as duas caracterizam-se pelo peso da indústria. Na região Centro, somos a área que mais exporta e a única que compete minimamente com a região Norte. Temos apresentado taxas de crescimento muito interessantes - que traz outros problemas associados…


Falta de mão de obra.

Por exemplo, e nós temos tido envelhecimento populacional. Ou a necessidade da reindustrialização como motor de crescimento e produção de riqueza que também sai penalizado quando precisa de mão de obra intensiva ou mais qualificada. Esta famosa Internet das Coisas traduz-se em ferramentas de acompanhamento da produção… e, muito diretamente, num primeiro nível existe a necessidade dessa capacidade para acompanhar e monitorizar as diferentes fases da produção. O que leva a que um trabalhador, hoje em dia, numa indústria destas, não tem uma folha A4 que acompanha o caixote das peças mas tem um monitor que lhe dá informação em tempo real - e isto é algo que carece de outras ferramentas para o trabalhador.


O IEFP oferece essas ferramentas também para quem está empregado?

Essa é uma das grandes lutas de passagem da informação. O IEFP tem dois públicos: os candidatos em situação de desemprego e as empresas. É lógico que, em diferentes momentos (crise ou crescimento económico), o nosso foco incide mais nuns ou noutros. Na anterior crise foi mais evidente porque o número de desempregados disparou brutalmente. Aí, a ótica da formação foi mais focada no candidato… mas não se pode perder a ótica da empresa porque se não as houver, não há ofertas de trabalho para os candidatos. Estes dois grandes clientes têm um conjunto de programas e medidas ajustados às necessidades. Portanto, da mesma forma que o IEFP tem historicamente o apoio à qualificação e requalificação de ativos desempregados, também o tem do lado das empresas e de ativos empregados. Qualquer pessoa, mesmo empregada, pode vir aqui ao serviço e tirar uma especialização em informática, soldadura, inglês, português… Há toda uma série de áreas em que qualquer cidadão pode continuar a investir na sua qualificação.


Como é que o IEFP de Aveiro está a tentar responder às necessidades da região?

Temos de estar atentos às necessidades do mercado e das pessoas. Eu costumo dizer que, até uma empregada de limpeza, que é um trabalho digno, precisa de saber ler e escrever para registo das limpezas. Nenhuma empresa contrata alguém para fazer a limpeza de espaços se não houver autonomia a esse nível.


Isso cresceu com o regresso de algumas comunidades de emigrantes?

Não, é algo que já existe há bastante tempo. O português como língua de acolhimento é outra área, é um serviço que é proporcionado aos ativos desempregados e que confere a certificação A2 que dispensa o exame para obtenção da nacionalidade. Mas essa mesma formação é disponibilizada a ativos empregados, a grande diferença está na forma como ela é montada. A mesma ação para ativos desempregados tem um horário das 9 às 17 horas, para empregados acontece em horário pós laboral. E nós também temos empresas que articulam connosco para proporcionar determinada formação aos seus trabalhadores. Não é uma prestação de serviço às empresas, é às pessoas… mas alinhada com as necessidades de todos.


E há empregos que já exigem mais formações…

Se as pessoas, hoje, não tiverem o 9.º ano não podem ser eletricistas, por exemplo. Uma profissão regulamentada tem associada uma habilitação académica. Imaginemos que o trabalhador já tem as habilitações… hoje em dia, já existem sistemas de reconhecimento que valorizam o que a pessoa já fez como o que a pessoa não fez de forma formal. A qualquer momento é possível articular com os nossos centros Qualifica para integrar o que fiz formalmente e avaliando o que aprendi na prática e chegar à conclusão que não é preciso fazer módulo nenhum.

Imaginemos também os técnicos de injeção… não há no país. Preparar um técnico de injeção demora anos porque há toda uma bagagem que é necessária para lidar com novos compósitos. A maior parte de empresas de informática também dizem que não têm engenheiros informáticos suficientes mas a maior parte das tarefas que desenvolvem não precisam de engenheiros informáticos. Uma empresa que trabalha na área das telecomunicações precisa de programadores num conjunto específico de linguagens… e um engenheiro recém formado detêm essas componentes mas isso corresponde a 5 ou 10% do que aprendeu durante o curso. O que se vai conseguindo é uma requalificação à medida… se houver pessoas com uma formação de base e que, com alguma rapidez, podem adquirir um conjunto de conhecimentos que possam vir a executar essas tarefas. Há uma linha de financiamento agora do Plano de Recuperação e Resiliência para podermos dar esta resposta.


Qual é a cadência de produção de dados do IEFP?

Mensal.


O que é que mudou de 2019 para cá?

Deixe-me mostrar-lhe… porque esses números podem ser consultados no separador de estatísticas do IEFP, com um desfasamento mínimo. Em dezembro de 2019 tínhamos, por exemplo, tínhamos 6.520 desempregados em Aveiro… em dezembro de 2021 tínhamos 6.102.


Uma melhoria. Pequena mas melhoria.

Por isso é que eu lhe dizia que o impacto da pandemia… houve uma capacidade de resiliência, houve investimento, houve alguns milhões de apoios para as empresas da região para manutenção de postos de trabalho e as empresas não pararam de crescer. Se forem aos dados do Banco de Portugal ou do Ministério das Finanças vão verificar que as empresas ligadas à indústria continuaram a crescer.


Esses dados existem por município?

Sim, também existe. Se quiser ver os dados de Vagos, estes estão disponíveis.

É diretor do IEFP Aveiro desde março de 2021. Que balanço faz e quais são as próximas preocupações a curto/médio prazo?

Acima de tudo, uma grande satisfação porque a equipa tem correspondido. Cheguei numa fase de pandemia, uma fase complicada em que houve uma complexificação no desempenho das atividades. Houve um esforço muito grande… e basta ver a quantidade de apoios que foram distribuídos pelo IEFP, os agentes públicos em geral foram sobrecarregados durante a pandemia e houve uma capacidade de resposta dos serviços.

Quando cheguei já havia um conhecimento da realidade e sabíamos onde poderíamos apostar. A grande aposta tem sido do lado dos candidatos, no contacto com eles. A pandemia deixou e provocou uma relação muito administrativa com muita gente e é necessário investir na retoma, no contacto, na intervenção direta com as pessoas. E se os números também retornaram também foi por esse esforço de todos para proporcionar essas respostas. O objetivo é melhorar na relação com as empresas e na maior promoção e disponibilização dessa oferta de formação de ativos empregados que muitas empresas ainda desconhecem. São três grandes áreas de atuação que queremos melhorar nos próximos tempos: a qualidade do serviço e do atendimento ao candidato, mais serviços de formação às empresas e capacidade de resposta ao nível da execução e desenvolvimento de programas e medidas.

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