“Quando andava na escola, em Vagos, a minha mãe já me pedia para fazer o almoço quando eu estava de férias. Tinha 11 ou 12 anos, a minha mãe saía para ir vender pão e eu já ficava em casa a fazer o almoço. Desde essa altura que soube que gostava muito de cozinhar… e também queimei muitas panelas mas ‘botava-as’ fora para a minha mãe não ver [risos]”. É desta forma que Filomena Sacramento dos Santos Grave recorda os primeiros passos dados na cozinha de casa dos pais, quando ainda era criança. Uma paixão juvenil que já passava para os pratos que eram servidos à mesa, com a cozinheira a recordar um episódio vivido com o irmão. “Devia ter uns 12 ou 13 anos e o meu irmão, que é mais novo, a dizer-me que a mãe e o pai estavam a dizer que eu cozinhava muito bem, que a comida era toda muito boa. Eu nunca mais me esqueci disso”.
O amor pela cozinha foi passando de geração em geração, numa família de Menas e de matriarcas que sempre viveu mais para a padaria. Coube à nossa Mena - a desta notícia - virar-se para a cozinha, abrindo um restaurante em Vale de Ílhavo onde vive há cerca de 30 anos com o marido. Um sonho antigo, alicerçado em petiscos e lanches que preparava em casa para alguns amigos e que, quando a procuravam, diziam sempre: “Vamos à Dona Mena”.
“Há muitos anos que ambicionávamos ter um restaurante, eu e o meu marido. Foi um concretizar de um sonho, de trabalho feito pelos dois. O meu marido é que fez todas as obras aqui no restaurante… por isso, tem um sentido diferente. Por isso é que dizemos que não temos um restaurante, não sabemos trabalhar num restaurante. Isto é a nossa casa. A comida que eu faço, é como se estivesse a fazer para a minha família. O que faço para uns, faço para outros. Gosto que as pessoas venham por se sentirem em casa, por se sentirem bem. E acho que isso também é bom… não é só pela comida, é também pela envolvência. E as pessoas acabam por ter uma experiência diferente de um restaurante. Eu quero que as pessoas sintam que isto é a minha casa e a casa delas”.
Já quanto à ementa... "não há". “É come e cala [risos] O que vai para a mesa é que é para comer. Claro que as pessoas não são obrigadas a comer uma coisa que não gostam, por isso é que temos sempre mais do que uma coisa. E as pessoas comem o que querem”, continuou antes de revelar que, às quartas-feiras, costuma ser rojões e bacalhau, às quintas-feiras, cozido no pão, à sexta-feira, derivados de bacalhau… Pratos onde o mais importante é o sabor. “Não sei temperar para muitas pessoas. Até porque não sigo receitas. Leio muito, tenho muitos livros mas faço tudo a olho”.
Premiada como Profissional do Ano
No início de julho, na gala dos prémios AHRESP, Mena recebeu o prémio Profissional do Ano. “Os seus pratos despertam, acima de tudo, memórias. Na sua casa, são cozinhados e experimentados pratos tradicionais portugueses, que dependem dos ingredientes disponíveis no dia. Dona Mena reaviva a confeção de receitas tradicionais locais e utiliza produtos endógenos na região de Ílhavo e de Vagos”, descreve a AHRESP.
“Sou membro da AHRESP, conheço bem os elementos e são meus clientes. Mas nunca os tratei de forma diferente! Este prémio foi uma grande surpresa para mim, não estava à espera… sempre que eles cá vieram, vieram como amigos e clientes. É isso que pretendo com toda a gente. Eles entenderam que este conceito era diferente, que a minha maneira de ser é diferente e que eu devia receber este prémio. Para mim foi uma surpresa muito grande e é um grande orgulho”, terminou Mena.