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Nuno Margarido - Jornalista e Colaborador

O reportório de expressões popularuchas ficou mais rico nos últimos anos, em Portugal. De norte a sul muitos são os exemplos de eventos que são “os melhores de sempre” ou as ocasiões “mais importantes de sempre”. Querem fazer-nos acreditar à força que estamos a viver os momentos mais importantes e decisivos da história da humanidade. Pois, tenho uma novidade. Não estamos. Nem estas são as eleições mais importantes de sempre. Todas as eleições o são. Umas mais impactantes do que outras, é certo. Mas todas importantes. 

Ora, imagine-se que a Câmara de Vagos ou qualquer uma das freguesias mudam de cor política. Muitos serão aqueles com opinião de que foi importante mudar. E quem pense o contrário, claro. Imagine-se também que nada muda no cenário político em Vagos, relativamente aos partidos que lideram. Muitos serão aqueles com opinião de que foi importante manter a estabilidade e reforçar a confiança no que tem sido feito. E quem pense o contrário, claro. Todas são posições legítimas. Mas o mais importante é que, volvidos quatro anos, poderemos fazer as mesmas ou outras escolhas. E ainda bem. Porque todas são importantes e todas permitem a manutenção do status quo, o reforço ou até a mudança. E não há muitas coisas mais importantes do que a possibilidade de mudar para quem não vive resignado e sonha com futuros tão ou mais risonhos.

Talvez os programas. Talvez os programas que surgem a cada quatro anos – renovados, esperamos – sejam ainda mais importantes. É nos programas que se alicerçam os nossos votos. É nos programas que podemos ver explanadas as ideias que partilhamos para o território, as vontades de fazer diferente, de fazer melhor ou simplesmente de fazer. É nos programas que antecipamos o futuro e é nos programas que encontramos soluções para más decisões tomadas há anos. Não é nas bandeirinhas a esvoaçar. Não é nos sorrisos bonitos quase forçados. Não é nas pancadinhas nas costas. Não é nos jantares, comícios ou arruadas. É nos programas e nos locais que dão voz aos mesmos. É no plano das ideias que ambicionamos o futuro. Isto, para quem quer andar para a frente, claro. Porque até a nível local há quem pense em políticas com base num passado que já foi – a Amishização (referência ao grupo Amish) de Vagos que qualquer dia põe o povo vaguense a tirar novamente o leite às vacas.

Feito o aparte sobre a reposição das freguesias no concelho (e no país) resta dizer que tão importante é o programa como quem o executa. Ninguém tem de saber tudo. Mas é importante conhecer quem saiba e está disponível. Um programa recheado de boas propostas pode ser uma mera “folha de couve” quando não cumpridas. E de boas intenções está o (dizem que é o inferno) cheio. Sejamos exigentes com quem se candidata. O bingo da política portuguesa diz que quem não partilha a cor política da anterior liderança é obrigado a dizer que esteve tudo mal. “Podemos ser mais”, “a equipa é dinâmica e capaz”, “confiança num futuro melhor” e “sentido de responsabilidade” são expressões que não podem faltar ao bingo. Porque o que não falta por aí são políticos e discursos requentados e votos acríticos dados de olhos fechados.

Sejamos exigentes e fujamos das habituais falácias ad hominem, que atacam apenas o carácter das pessoas para descredibilizar as ideias. Fujamos da falácia da “bola de neve”, tão em voga atualmente, que acontece quando alguém diz que um acontecimento relativamente pequeno vai inevitavelmente desencadear uma sequência de eventos cada vez piores, até chegar a uma consequência extrema, sem apresentar provas sólidas de que essa progressão realmente vai acontecer. “Vem aí o diabo”, dizem. Fujamos ainda mais do apelo à ignorância quando muitos dizem que algo verdadeiramente aconteceu porque ainda ninguém provou que não aconteceu. 

Há quem se posicione politicamente e vire mouco em relação ao “outro lado”. Vozes vociferantes que não querem o melhor para Vagos e apenas querem ter razão. As boas ideias, felizmente, não têm ninho político. Mas nem todas fazem o seu caminho porque a surdez berra mais alto. Longe vai o ditado das orelhas, que são duas, e da boca, apenas uma. Enfim. Respeite-se o humanismo, evite-se a resignação e dê-se voz a quem conhece Vagos mas, acima de tudo, conhece o mundo. Porque Vagos pode mudar, crescer, melhorar ou até piorar mas o mundo não espera. E eis que surge uma pergunta: já sabe o que propõem os partidos para os próximos quatro anos? O tempo passa a voar mas quatro anos é muito tempo.

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