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A Primeira Guerra Mundial, no início do século XX, foi um dos acontecimentos mais emblemáticos da história da humanidade. Entre inúmeros fatos terríveis que os livros nos contam, há um bastante singular de solidariedade e fraternidade entre soldados de tropas inimigas. Trata-se de uma trégua de Natal, ocorrida no dia de Natal em 1914 na Bélgica.

O inverno agreste abateu-se sobre as trincheiras e os exércitos permaneceram recuados, no entanto, poderiam ver se os inimigos saíssem e alvejá-los. No dia de Natal daquele ano, alguns soldados começaram a mostrar-se descontraídos e festivos, pareciam não se importar com a guerra e nem com o inverno. Outros, estranhamente, começaram a andar, desarmados pela zona conhecida como “terra de ninguém”, espaço entre uma trincheira e outra. Caminhavam até à zona inimiga sem serem abordados ou mortos pelos seus algozes e desejavam um “Feliz Natal” oferecendo em seguida bebida, comida ou charutos.

É Natal novamente e o mundo continua em guerra. Guerras declaradas entre países e outras mais subtis mas também atrozes.

Existe muita expectativa de felicidade e harmonia durante esta época. Os filmes de Hollywood e a publicidade especialmente produzidos para esta festividade, podem nos fazer crer que a cena idílica: família de três gerações, mesa farta e muitos presentes é sinônimo de felicidade. A nossa sociedade está intimamente ligada ao consumismo, somos “Homo Consumericus”, segundo filósofos uma (des)evolução, possuímos o desejo de consumir cada vez mais para compensar o vazio interior, a passividade, a solidão e a ansiedade. Será? Vale a pena pensar nisso.

Vale a pena pensar também no papel da Mulher nesta época festiva. Obviamente é uma questão cultural, gerações de mulheres, juntas ou sozinhas na cozinha, fazendo sonhos, rabanadas, assando perus, cozendo bacalhau, nos dias que antecedem, nos dias em que decorre e nos dias após o Natal, até um de janeiro. Elas são a produção, vivem a tradição dos bastidores e se, para os outros, o Natal é estar à mesa, para muitas estar na cozinha é uma missão.

- Ai, mas ela faz com tanto gosto!

Certamente. Mas depois de um dia de trabalho, ainda vai num centro comercial comprar prendas para cunhadas, sobrinhos, marido, filhos e afins, rezando que este Natal não seja como anterior, que a implicância da sogra com o bacalhau durou até ao Carnaval e que não discutam sobre politica.

 - Ah, não te esqueças de fazer rabanadas especiais para o Rodolfo que é vegan!

 Parece fácil.

O Natal é uma grande metáfora de hospitalidade. Jesus não tinha lugar onde nascer, os seus pais tiveram de fugir para lhe dar segurança. Acaba por ser acolhido por pastores (gente nómada e marginal à sociedade) e pelos reis magos (estrangeiros). Jesus foi um refugiado. Muitas pessoas ditas católicas parecem desconhecer esse facto, apesar do Papa Francisco falar constantemente de acolhimento.

O meu natal este ano vai ser passado a trabalhar no hospital, como tantos profissionais de saúde, que deixamos os nossos e vamos cuidar de quem precisa, Pessoas que na sua fragilidade também não estão com a família e precisam de acolhimento e atenção.

Enfim, os chavões estão certos: “haja saúde”, ou como se diz no Brasil “alegria, saúde e paz que o resto a gente corre atrás”! 

Feliz Natal!


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