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Não é uma tarefa dantesca, mas anda lá perto. É verão, estive de férias, estou constipado e quem me conhece sabe que qualquer mazela física me coloca à beira do leito da morte, sofredor impenitente, com nenhuma tolerância ao sofrimento físico. O Ponto, dizem, vai fazer 22 anos. E quer que eu escreva algo. Julgo que há malta que nunca aprende, mas se perderem leitores “not my fault”. Fiz parte dele. Quase, quase, desde o início, eram outras as caras, mas a nova gerência, quando tomou posse, resolveu manter o seu activo mais valioso, pago a peso de ouro. O que é que posso escrever sobre estas duas décadas, um espaço de tempo que parece ter passado num ápice, que não tenha sido dito antes? Em primeiro lugar, um obrigado. A todos. Antes disto, do Ponto, das notícias da nossa terra impressas, não se sabia sequer que, na fauna clubista, existiam portistas. Ouvia-se falar, de tempos a tempos, ainda longe do advento das redes sociais, que tinha sido avistado algures um adepto do emblema tripeiro mas, tal como as lendas do Loch Ness ou do Big Foot, as fotografias eram todas granulosas e os vídeos de má qualidade. Até que eu cheguei. Sem pompa, nem circunstância, sem trombetas a anunciar a boa nova, mas empunhando o baluarte do dragão e aproveitando aquele cantinho, que ainda considero meu, para louvar as façanhas, antigas e modernas, dos homens de azul e branco. Nem tudo foi um mar de rosas, começando aqui pelo escriba, que quando começa a escrever não tem limites na imaginação e leva tudo à frente, tipo o Marega num campo de futebol. Havia limites de caracteres mas, à boa maneira da filosofia “Pintoniana”, esses não são para cumprir. Escrevia sempre a mais, nunca fui alvo de purga - mas tentaram - e nem o fair-play ortográfico, que o Director procurou implementar, conseguiu sucesso. Fundamentalizei-me, criei uma trincheira naquele pedaço reservado para as páginas finais (é uma mágoa que guardo nunca terem feito capa com a minha fronha, dentes arranjados e barba feita, de cachecol ao pescoço) e fui largando mísseis, tornando a tarefa do homem que mandava naquilo numa espécie de delegado da paz, a tentar intervir sem que existissem danos colaterais*. Tudo em nome duma religião que, para mim, sempre foi terrena e tinha as vestes papais da cor azul e branca. O futebol tem a importância que cada um lhe quer dar e algumas pessoas acham que é uma questão de vida ou de morte. E sim, acabei neste momento de plagiar parcialmente o enorme Bill Shankly, futebolista e treinador escocês, um daqueles que mandava abaixo dois scotchs bem aviados logo ao pequeno-almoço que, procurando resumir aos ateus o que era o futebol disse exactamente: “Não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais importante do que isso”. E é. Anestesia-nos do quotidiano por vezes cinzento. Alegra-nos, de forma quase pueril, quando malta que nem conhecemos e ganha balúrdios, marca golos decisivos. Rimos, choramos, abraçamo-nos a desconhecidos, numa fraternidade muito mais sadia do que alguns casamentos que conheço.

*Houve danos colaterais. Choquei de frente com o João e o Sandro e a vesícula, a minha, ressentiu-se. Entre garrafas de vinho (nunca escolhidas por mim, leigo no assunto), bochechas de porco, tripas, borrachos ou leitão confeccionado de várias formas, alargamos a tertúlia para um espaço diferente. Dizem que a vida é assim, feita de coisas simples, com brindes à amizade. Fica aqui mais um, a quem tem a tarefa gigantesca de manter o Ponto, incontornável e já reconhecido fora das fronteiras concelhias, a carburar em pleno. Venham mais 22!

Paulo Pereira

Colaborador


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