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Era uma vez um país onde tudo parecia funcionar na perfeição. As pessoas tinham acesso a serviços dignos, não se preocupavam com os serviços de saúde, todos tinham um médico de família e, em caso de azar, podiam recorrer às urgências. Os pais criavam os seus filhos, proporcionavam-lhes uma educação de qualidade, permitindo-lhes crescer e ambicionar um futuro promissor, onde sonhavam viver melhor do que a geração anterior. 

Este cenário digno de “País das Maravilhas” era o retrato que se esperava ao ouvir as declarações do Partido Socialista, que afirma ter implementado melhorias significativas durante o ciclo governativo de oito anos que agora se encerra. Mas será mesmo assim? 

Na semana em que é oficializada a anunciada demissão do Primeiro-Ministro (PM) torna-se uma boa altura para fazer um balanço destes 8 anos, olhando para a situação em que o país é deixado para o governo que será eleito em março. Farei o meu balanço olhando para o que são os meus pilares principais de uma sociedade civilizada: Saúde, Educação e Habitação. 

Começando pela Saúde, em 2016, o PM prometeu que todos os portugueses teriam médico de família até ao final de 2017. No entanto, os dados do portal da transparência do SNS mostram que, em 2023, 1.7 milhões de portugueses continuavam sem médico de família, piorando em relação a 2014 (1.2 Milhões). O investimento na Saúde, apesar das promessas, ficou aquém do planeado na maioria dos anos, tendo a execução orçamental apenas passado os 50% em 2016 e 2020. 

O serviço de urgência está em crise generalizada, onde nas últimas semanas chegaram a estar 39 hospitais com urgências fechadas simultaneamente. Em caso de necessidade, as pessoas teriam de verificar no portal qual a urgência disponível, aumentando muitas vezes a distância/tempo de deslocação e rezando para que o portal estivesse atualizado.  

Passando para a Educação, greves e escolas fechadas foram a tónica do ano letivo passado, mas este não arrancou muito melhor, com 80 mil alunos sem professor a pelo menos uma disciplina. O fecho do ciclo governativo tem o azar de coincidir com a publicação dos relatórios PISA, que avaliam os conhecimentos dos alunos da OCDE, mostrando que educação em Portugal piorou em todos os campos avaliados (matemática, leitura e ciência). Verifica-se que 30% dos alunos não conseguem resolver um problema básico de matemática, o pior resultado dos últimos 15 anos. 

Quanto à Habitação, o aumento dos preços das casas é notório, influenciado pela inflação, mas sobretudo pela falta de construção onde é realmente necessária. Entre 2017 e 2022, o crescimento do parque habitacional foi de apenas 0.29% ao ano, pouco mais de 18 mil casas por ano, valor que somado é inferior ao número de casas construídas num único ano, no passado. A complexidade e morosidade do licenciamento e a política fiscal desequilibrada são apontados como responsáveis por esta redução na construção. 

Sacrificar o investimento é escolher o presente em prol do futuro, mas é uma medida sedutora, pois é eleitoralmente agradável pelos resultados no curto prazo. O grande problema é que a conta acaba por chegar, como podemos verificar pelo estado destes setores atualmente. 

O grande mérito do PS é ter montado uma máquina de propaganda forte e eficaz. Se todos os setores do governo funcionassem da mesma forma, provavelmente teríamos um país muito diferente. Essa máquina tenta passar um balanço de conto de fadas destes últimos 8 anos de governação, mas tem o mesmo problema que a fábula original do “País das Maravilhas”: não é real. 


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