Até à entrada no mercado de trabalho, a política sempre foi um assunto no qual fui tropeçando, sem nunca me captar a atenção. Há 3 anos, voltei à Universidade ao mesmo tempo que arranjei um part-time que me faz lidar diariamente com as gerações entre os 18 e 25 anos, e apercebi-me de que este afastamento não era exclusivo da minha geração, mas ampliava-se nas gerações mais jovens.
Sobre as razões, já muito se teorizou, principalmente em épocas eleitorais, quando a elevada abstenção jovem preocupa. As várias opiniões convergem em alguns argumentos comuns: má comunicação (forma e meios), falta de confiança nas instituições, ausência de identificação com os partidos e desconhecimento do impacto da política no seu dia a dia.
A má comunicação é a área em que mais me tenho concentrado, uma vez que a mensagem não está a passar, e isso é preocupante. As gerações mais jovens mudaram drasticamente a sua forma de comunicação nos últimos anos, e os partidos parecem não ter conseguido acompanhar essa mudança. A comunicação política continua a ser feita pelos meios tradicionais, como televisão e jornais, que os jovens já não utilizam. Mesmo quando tentam mudar de meios, usam frequentemente uma linguagem complexa, resultando em vídeos no YouTube que parecem comunicados formais, com um alcance inferior ao de um canal amador feito em casa.
Esta situação é especialmente grave para os partidos do círculo do poder, que, apesar de terem mais recursos, perdem terreno para partidos mais jovens, ou com ideias mais questionáveis. Podemos analisar os dados das principais redes de comunicação (Instagram e YouTube), onde atualmente partidos como a Iniciativa Liberal e o Chega, que mais captam a atenção dos jovens, possuem o dobro, ou triplo, do alcance de PS e PSD. No Youtube é ainda mais gritante, onde o Chega tem uma audiência 10x superior aos principais partidos.
Será isto negligência? Será que adaptar-se à forma como os jovens comunicam é interpretado como facilitismo? Será que esta indiferença em relação aos jovens está relacionada com a sua elevada abstenção, levando os partidos a concentrar-se apenas naqueles que garantem votos no próximo ato eleitoral? Será que vale a pena para os partidos de centro abdicar de passar a mensagem a esta fatia da sociedade e permitir que ela caia para partidos menos moderados, que podem tornar-se a base eleitoral do futuro? Estas são apenas algumas questões que deveriam preocupar quem está no poder, pois terão um grande impacto na forma como a nossa política se desenvolverá no futuro.
Para aproximar os jovens, é preciso passar a mensagem. Para isso, é necessário falar a mesma língua e estar onde eles estão. É crucial apontar medidas que demonstrem preocupação com o seu futuro e dar-lhes representatividade para que possam ser ouvidos nas suas preocupações e necessidades. Este trabalho pode ser difícil e com resultados escassos no início, mas deve ser feito. Os jovens são o futuro, o seu voto é importante e é essencial trazê-los de volta para o centro de decisão.