Na quinta feira fui fazer um exame à próstata e quando o Diretor me ligou sobre um texto para as redes sociais pensei que ia fazer chantagem.
Para mais, a tecnologia cada vez se confunde mais com a saúde e a biologia: desde 2000 que temos medo do bug, há quem diga que o risco está todo nos ácaros e já nem se sabe bem se viral é um classificativo detestável ou sumamente desejável.
De resto, também não percebo porque me convidaram para escrever sobre aquilo em que sou completamente ignorante. Quando há muito anos um amigo me perguntou se já tinha Facebook disse logo que sim porque imaginei que ele se estava a armar ao pingarelho com o inglês e é claro que eu tinha (e tenho) um livro de fotografias, com as faces dos amigos. No LinkdIn a coisa não foi tão grave mas juro que pensei que era uma rede tipo maçonaria em que só falavam para quem tivesse sido iniciado. Mas sou da beira mar, sei bem o que é uma rede e mesmo na vagueira sabemos que os barcos também já serviram para enredar sereias.
A minha pouca experiência nas redes sociais baseia-se no whatsapp em que basicamente o que fazemos é partilhar anedotas e imagens boas (mesmo boas, se me faço entender), sem ter que mandar sms a todos os amigos. Tenho grupos tão espetaculares como o “12” em que somos muitos mais do que os apóstolos, o “almoço 6 de março” em que a política também aparece nesses idos, o “nariz do mundo” que não tem a palhaça ao lado, ou o “eml test drive” que qualquer dia fundo com o “tachos na quinta” e os “abibes” para ver que caldeirada de carne de lá sai.
Como bom português, 80% dos grupos em que participo têm a ver com comida e bebida e assim, e com as confissões coletivas, poupa-se no psicólogo e em atividades bem mais perigosas para aliviar o stress como fossem o desporto ou a porrada a sério.
Porque porrada virtual, mas nem por isso mais meiga, sabemos que vai pululando nas tais redes. Também nesse aspeto a língua mudou muito porque estávamos habituados a que rede fosse uma plataforma para não cair e agora percebemos que é uma rede para nos botar abaixo.
Tenho para mim que desde que os americanos foram à lua e nos puseram a falar americano temos vindo a perceber menos. Rede é net em americano mas social media é rede social pelo que media deve ser rede e isto é demais para uma cabeça média.
Por isso nos tentam simplificar a vida e dizer-nos quais os sítios mais instagramáveis onde estamos. Posar para a posteridade num outfit amplamente reconhecível pretende dar reconhecimento. Um dos problemas é que, por um lado, a posteridade aqui demora pouco mais do que um clique mas, por outro lado, não pode mesmo ser enganado.
No tempo em que os pokemons não falavam dizia que uma informação absoluta estava escrita na pedra com o desgaste da pedra a sílica grava melhor na cloud. Esta é uma novidade com implicações também religiosas porque quando rezamos para que seja feita a vontade divina ”assim na terra como no céu”, estamos a pôr uma velinha para que também a nuvem seja abençoada.
Oscar Gaspar
Colaborador d’O PONTO